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Revista Apasem | Amendoim: passado, presente e futuro no Brasil

O amendoim é uma leguminosa oriunda da América do Sul e que atualmente tem a sua maior produção e consumo na China. Pode ser consumido na forma de confeitos, óleo ou simplesmente torrado. O Brasil produziu grandes volumes na década de 1970, atingindo a marca de um milhão de toneladas por ano, sendo a maior utilização para óleo. Entretanto, com a introdução no país do cultivo intensivo de soja, o óleo de amendoim perdeu espaço e já na safra 2012/2013 o Brasil produziu em torno de 300 mil toneladas. Mas na última década este cenário vem mudando gradativamente.

O grande lema da cadeia de produção de amendoim era o crescimento sustentável em área e volume com ganhos de mercado, pois o campo responde muito mais rápido do que a parte de pós-colheita e adequação para acesso a outros mercados. Então, o setor se organizou, sobretudo com a Câmara Setorial do amendoim dividida em temas julgados importantes para o crescimento sustentável da cadeia como sementes, exportação etc.

Como resultado da organização do setor, o Brasil saiu da marca de 300 mil toneladas produzidas na safra 2012/2013 para em torno de 900 mil na safra 2022/2023 (um aumento de três vezes em 12 anos), o que representa quase 2% da produção mundial. Os maiores produtores do país atualmente são os Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. No Estado paulista, que detém 83% da área plantada, o destaque é a produção em áreas de renovação de canaviais, o que é muito benéfico para o solo, pois, além de ser uma rotação de cultura, o amendoim é um fixador de nitrogênio no solo. Outro benefício é a produção de alimentos em áreas de produção de energia, sem diminuição dos canaviais e a abertura de outras áreas. Em Minas Gerais e em Mato Grosso do Sul há um crescimento elevado nos últimos anos, devido à disponibilidade de terras, clima adequado e proximidade com a indústria paulista.

Este aumento significativo de produção foi possível pelo avanço em várias frentes: 1) O lançamento de novas variedades com maior produtividade e que atendem ao mercado atual. Como exemplo, as variedades auto-oleicas, que são variedades que podem ficar mais tempo na prateleira. Algumas delas são o IAC 503, IAC OL3 e BRS 423. Para título comparativo, a área plantada de produção de sementes quadruplicou entre as safras 2014/2015 e 2022/2023; 2) A conquista do protocolo de autocontrole de aflatoxina, o que mitigou risco de um dos principais problemas na qualidade do amendoim. Este protocolo ajudou a garantir melhor qualidade da cultura e hoje se juntou ao controle de pesticidas; 3) Outro exemplo de avanço foi Minor Crops, que possibilitou a disponibilidade de mais defensivos agrícolas para o controle de doenças e pragas de um modo mais seguro na cultura de amendoim. Isso possibilitou o uso de moléculas mais modernas e seguras e impactou significativamente no aumento da produtividade média da cultura, saindo de cerca de 3 mil quilos por hectare na safra 2014/2015 para algo em torno de 4 mil quilos (sem casca), safra 2021/2022.

Junto com a maior produtividade e qualidade, com os avanços no processo de produção e de pós-colheita, o Brasil também aumentou significativamente suas exportações de amendoim nos últimos 10 anos. O que é um caminho natural, pois o mercado interno é insuficiente para absorver um aumento tão grande e tão rápido. O país saiu de um volume exportado de 64 mil toneladas de grãos, em 2014, para 300 mil em 2023, um aumento de 18,60% ao ano, se estabelecendo como o sexto maior exportador mundial. Os maiores compradores da produção brasileira são (por ordem): Argélia, Rússia, África do Sul e Países Baixos, sendo que apenas para a Argélia e para a Rússia foram destinadas 50% das vendas do Brasil.

Com este panorama, o desafio é o aumento de volume aos mercados compradores. Um evento factível de ocorrer, para o grão desta oleaginosa, é a conquista do mercado europeu, que, apesar de ser mais exigente, é o que melhor remunera. Atualmente, o Brasil exporta apenas 8% do volume importado pela União Europeia. A Argentina, por sua vez, possui 50% do volume importado daquele mercado.

O caminho que é claro para o Basil é que o país vai continuar crescendo em volume de produção de amendoim. A migração para Estados onde as terras são mais abundantes e baratas servirá para produção de um amendoim mais competitivo no cenário global, o que, aliado à permanência dos ganhos em qualidade dos últimos anos, abrirá muitas alternativas para o país. Sendo assim, apesar da complexidade, do contínuo aperfeiçoamento e dos desafios de modelo de produção e logístico, as perspectivas são otimistas e o Brasil será um player importante.

Fonte: Revista Apasem/Edição 2024 por Juliano Rodrigo Coró. Ele é engenheiro agrônomo e atua há 22 anos no setor. É dono da consultoria Plural Agro e sócio-diretor da JKM Agro Consult – ambas ligadas ao ramo de amendoim. Foto: Mapa

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