set200686

Prêmios negativos da soja trarão prejuízo de R$ 12 bilhões no 1º semestre

Safra recorde de soja, baixa comercialização antecipada e demora nos embarques. Esses três componentes formam a “tempestade perfeita” para a queda vertiginosa dos prêmios no Brasil. Essa é a avaliação do consultor em agronegócio Carlos Cogo.

Segundo ele, há quase 20 anos não se registra prêmio inferior a um dólar por bushel. A última vez que isso aconteceu no país foi em abril de 2004. O especialista ilustra como o cenário afeta os preços da soja no Brasil.

“O preço que seria embasado pela cotação do primeiro vencimento em Chicago, que hoje está acima de 15 dólares por bushel, representaria o equivalente, sem prêmio, a R$ 160 no Porto de Paranaguá, mas está em R$ 146 [nesta quinta-feira], ou seja, estamos perdendo 14 reais por saca pela ineficiência da nossa logística e do nosso sistema de infraestrutura”, afirma.

Cogo lembra que esses problemas advém do início da cadeia, com a falta de armazenagem e de capacidade estática. “Nesta safra de grãos, faltam 124 milhões de toneladas de capacidade estática. O produtor colhe, embarca, joga no porto, todos contratam o frete ao mesmo tempo, os fretes explodem de preços, os descontos crescem, os portos ficam entupidos de produto e os prêmios desabam, como estamos vendo”, enumera.

Grande volume de soja disponível

Em uma safra de soja avaliada em 153 milhões de toneladas, conforme a Conab, os produtores brasileiros venderam, apenas 27% de forma antecipada. “Com isso, gera-se um acúmulo ainda maior, já proveniente de uma colheira maior, de soja disponível. A isso, soma-se mais um ingrediente complicador: o câmbio abaixo dos R$ 5”, diz Cogo.

De acordo com ele, os componentes que levam ao cenário negativo dos preços finais são compostos por:

Colheita farta

Tempo de embarque demorado

Logística de portos complicada

Falta de armazenagem no interior do país

Câmbio baixo

Prêmios e o prejuízo ao produtor

O especialista lembra que cada vez que há um desconto exagerado, há uma perda não apenas na soja que é exportada, mas também na movimentada internamente. “Tanto a soja exportada como a interna vendida para produzir farelo e óleo no mercado interno também sofre esse desconto. Resumindo: a perda em abril está estimada em 4,4 bilhões de reais”.

Com isso, o prejuízo para este primeiro semestre chega a 12 bilhões de reais com prêmios negativos. “O programa de construção de armazéns do governo tem recursos para 4,5 bilhões de reais, ou seja, daria para fazer [com o valor do prejuízo] dois anos de programa”, ilustra Cogo.

Assista reportagem completa

Fonte: Canal Rural Foto: Divulgação

set200778

Mercado de soja deve iniciar a semana sob pressão

A tendência é de um início de semana com poucas alterações no mercado brasileiro de soja. Prêmios e dólar seguem recuando e Chicago esboça recuperação. A colheita avança e o aumento da oferta segue pressionando o mercado. Os produtores negociam apenas o essencial e esperam por repiques para se desfazer da soja.

O mercado manteve, na sexta-feira, o mesmo ritmo observado ao longo da semana: lentidão. Os preços variaram de maneira mista: queda em algumas praças, estabilidade e leve alta em outras.

Em Passo Fundo (RS), a saca de 60 quilos caiu em R$ 146,00 para R$ 144,00. Na região das Missões, a cotação diminuiu de R$ 145,00 para R$ 143,00. No Porto de Rio Grande, o preço baixou de R$ 150,00 para R$ 148,00.

Em Cascavel, no Paraná, o preço desvalorizou de R$ 138,00 para R$ 136,00. No porto de Paranaguá (PR), a saca recuou de R$ 148,00 para R$ 143,00.

Em Rondonópolis (MT), a saca estabilizou em R$ 127,00. Em Dourados (MS), a cotação seguiu em R$ 132,00. Em Rio Verde (GO), a saca decresceu de R$ 127,00 para R$ 124,00.

Chicago

* Os contratos da soja com vencimento em julho operam com alta de 0,54% a US$ 15,08 3/4 por bushel.

* O mercado busca uma recuperação frentes às perdas da sexta-feira.

* Porém, a alta do dólar frente a outras moedas e a queda do petróleo limitam os ganhos.

* A colheita de soja no Brasil também segue como fator de pressão. Segundo levantamento da SAFRAS & Mercado, a colheita já é estimada em 86% da área total esperada.

Prêmios

* Os preços FOB da soja voltaram a recuar no fechamento da semana passada nos portos brasileiros. A queda nos prêmios e a volatilidade de Chicago determinaram o recuo, em mais um dia de pouca atividade em Santos e Paranaguá.

* Os prêmios de exportação da soja estavam em -155 a -150 sobre Chicago no final da sexta no Porto de Paranaguá, para abril. Para maio, o prêmio era de -155 a -150. Para junho de 2023, o prêmio estava em -115 a -105 pontos, conforme dados de SAFRAS & Mercado.

* O preço FOB (flat price) para abril ficou entre US$ 494,40 e US$ 496,20 a tonelada na sexta-feira. No dia anterior, a cotação oscilou entre R$ 496,40 e R$ 501,90.

Câmbio

* O dólar comercial opera com baixa de 0,16% a R$ 4,908. O Dollar Index sobe 0,1% a 101,66 pontos.

Indicadores financeiros

* As principais bolsas da Ásia fecharam em alta. Xangai, +1,42; Tóquio, +0,07%.

* As principais bolsas na Europa operam mistas. Paris, -0,06%; Frankfurt, -0,07%; Londres, +0,23%.

* O petróleo registra perdas. O WTI para maio recua 0,67% para R$ 81,98 o barril.

Fonte: Agência Safras Foto: Divulgação

set200834

Paraná se destaca no melhoramento genético do feijão e garante maior produtividade

O Paraná é um dos maiores produtores nacionais de feijão, grão que tem presença obrigatória no prato dos brasileiros. No Estado, a produção é principalmente de agricultores familiares e, por isso, o Governo do Estado tem investido no melhoramento genético para aumentar a rentabilidade e a produtividade das lavouras.

O IDR-Paraná (Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná – Iapar- Emater) mantém um dos principais programas de melhoramento genético do País, e mudou a realidade agrícola do Estado, gerando conhecimentos, produtos e tecnologias. Como resultados, além de ganho na produtividade, propicia a prática de uma agricultura mais sustentável, a redução da utilização de agrotóxicos e, consequentemente, a produção de alimentos mais baratos e seguros para a sociedade paranaense.

A iniciativa começou a ser estruturada ainda na fundação do antigo Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), em 1972, com o objetivo de desenvolver cultivares para o mercado interno e externo, com bons atributos. São plantas que passaram por processos de melhoramento para que sejam inseridas características que não possuíam.

Genética

Desde que foi iniciado, o programa de melhoramento genético já colocou à disposição dos agricultores de todo o Brasil, e de alguns países da América do Sul e Europa, 223 cultivares. Destas, 41 são de feijão, e 11 estão atualmente com sementes disponíveis no mercado e cultivadas em todas as regiões produtoras no país. São elas: o IPR Tangará, IPR Campos Gerais, IPR Quero-quero, IPR Bem-te-vi e IPR Sabiá, todos do grupo comercial carioca. Há também no grupo comercial preto o IPR Uirapuru, IPR Tuiuiú, IPR Nhambu e IPR Urutau e, do grupo especial, o IPR Garça (branco).

Na safra 2022, 63% dos campos de multiplicação de sementes de feijão preto e 14% de carioca no Brasil eram cultivares IPR. “Observamos uma preferência do agricultor pelas cultivares desenvolvidas pelo IDR-PR, porque são variedades que promovem rentabilidade, contribuem para uma produção sustentável e têm resistência às principais doenças que ocorrem no Estado”, disse Vânia Moda Cirino, especialista em melhoramento genético de feijão e atualmente diretora de Pesquisa do Instituto.

Social

“A cultura do feijão é uma das prioridades do instituto, porque tem grande relevância econômica e social para o Estado. É predominantemente produzida por pequenos produtores, constituindo a principal fonte de renda desses agricultores familiares”, explicou a diretora.

O desenvolvimento de uma nova cultivar é um trabalho de longo prazo. Desde o planejamento dos cruzamentos, que visam à combinação dos genes para obter as características pretendidas para a planta até o lançamento das sementes para multiplicação, são 10 a 12 anos de estudos. O melhoramento genético agrega diversas características à planta, como ciclos de cultivo mais curtos, tolerância a diferentes condições de clima e de solo, arquitetura de planta que facilita a colheita mecânica e até mesmo a qualidade culinária do grão.

Maior produtividade

Laercio Della Vecchia, produtor rural em Mangueirinha, no Sudoeste do Estado, plantou por muito tempo variedades de feijão como o rajado, além do esteio e preto puro, mas, depois optou pelo carioca, com o plantio do IPR Sabiá. “Ele tem se mostrado muito bom em campo. Já no primeiro ano, produziu 70 sacas por hectare e nosso custo foi de apenas R$ 4 mil por hectare. Neste ano, o valor da saca girou em torno de R$ 350 a R$ 400 reais”, disse o produtor.

Após o processo de melhoramento genético, os grãos passam a ter alto potencial de rendimento e adaptação ao solo, garantindo mais estabilidade de produção. As plantas crescem com porte ereto, o que as torna mais apropriadas para a colheita mecânica e também desenvolvem resistência maior às principais doenças.

“Quando você tem uma genética que te dá tolerância, não tem necessidade de fazer tantas aplicações de fungicidas. Nós produzimos um alimento mais saudável, nutritivo, que vai fazer toda a diferença para o consumidor final. Estou conseguindo tirar os meus feijões sem o uso de inseticida. Em produtividade é o melhor que eu conheço hoje”, ressaltou Laercio.

Para ele, a escolha pela variedade ofertada pelo IDR-PR trouxe uma série de benefícios. “Uma boa safra começa com sementes de qualidade. Tivemos redução de custo e aumento de produção. É um feijão muito fácil de conduzir em termos de doenças radiculares e aéreas, principalmente antracnose, e é muito fácil de ser colhido, já que tem pouca perda mecânica”, avaliou.

Impacto

De acordo com Vânia, todas essas particularidades impactam positivamente o setor, já que os grãos passam a ter características adequadas ao segmento comercial, com um tamanho maior e boa aparência, mais tolerantes ao escurecimento. “São excelentes para a comercialização por conta da coloração, forma do grão, e qualidade culinária. Não adianta ser uma variedade boa de campo e ruim de panela”, enfatizou.

Com isso, a população que consome o feijão passa a ter um alimento de melhor qualidade, com cozimento rápido e caldo consistente, de sabor agradável e com elevado porcentual de grãos inteiros após o preparo. “Os seres humanos são reflexos do que comem. Solo rico, alimento rico. Estamos entregando um alimento com mais ferro, cálcio, mais rico em minerais. Além do produtor colher bem, o consumidor ganha um alimento muito mais nutritivo”, destacou o produtor.

Destaques

Uma das maiores conquistas do programa foi o desenvolvimento de cinco cultivares com resistência ao mosaico dourado, doença das mais prejudiciais a lavouras de feijão no Brasil, um constante desafio à pesquisa nacional. São quatro do tipo carioca — IPR Celeiro (2016), IPR Eldorado (lançada em 2006), IAPAR 72 (1994) e IAPAR 57 (1992) — e, ainda, IAPAR 65, do grupo preto, de 1993.

Na categoria de grãos do tipo carioca, a vitória mais recente do IDR-Paraná é a cultivar IPR Águia, que se destaca pela resistência ao escurecimento dos grãos. Em condições adequadas de armazenamento, grãos de IPR Águia levam cerca de nove meses para começar a escurecer, um atributo importante para os agricultores.

“Os consumidores não compram um feijão com pigmento escurecido porque o associam a um feijão velho que não cozinha. Além disso, os agricultores não dão pouso para feijão carioca, eles colhem e imediatamente comercializam para não perder valor. Essa cultivar possibilita que armazene o grão por um determinado período”, ressaltou Vânia.

Gourmet

O grupo de melhoramento genético de feijão do IDR-Paraná também busca avanços na categoria de feijões especiais (grãos do tipo gourmet). O IDR-Paraná vai lançar este ano a cultivar IPR-Cardeal, de grãos vermelhos, desenvolvida para o segmento de exportação, particularmente a indústria de enlatados e conservas.

Vania compartilha uma curiosidade: o fato de todas as cultivares de feijão produzidas pelo Iapar ganharem o nome de pássaros. “Os pássaros são nossos companheiros na lavoura quando estamos trabalhando. Nós associamos o nome da ave com alguma característica que se ressalta na cultivar”, disse.

Como é feito

A obtenção de uma linhagem a ser cultivada passa primeiro pela avaliação e seleção dos genitores que carregam as características agronômicas, comerciais e culinárias desejáveis para o cultivo. Isso inclui resistência a determinadas doenças, o potencial de rendimento, adaptação ao clima e até a cor, tempo de cozimento e quantidade de nutrientes no grão.

Pelo método de melhoramento convencional usado pelo Iapar, os genes são cruzados e recombinados para obter um único genótipo com as características esperadas para aquela cultivar. O produto resultante desses cruzamentos, que passa por oito gerações da planta sendo colhida e replantada, é avaliado até atingir a estabilidade genética do material.

Após esse processo, que leva de três a quatro anos, o material selecionado é testado em diferentes ambientes do Estado, sendo plantado nas estações experimentais do Iapar e em áreas de produtores parceiros para avaliar sua adaptação a diferentes climas e solos.

O programa também conta com um protocolo para manejo integrado de pragas (MIP-Feijão), tecnologia para fixação biológica de nitrogênio e métodos para o manejo sustentável das principais doenças. Vânia explicou que esse procedimento foi aplicado em todas as áreas acompanhada pelo IDR-PR.

“Em boa parte das minhas áreas não houve necessidade de aplicar inseticida. O MIP diagnostica os bichos inimigos e a gente só interfere quando eles estiverem em maior proporção ou causando danos. Quando tem necessidade, aplica, quando não tem, não aplica”, detalhou a diretora de Pesquisa do IDR.

Segundo Vânia, todo esse processo é essencial e muito satisfatório, já que beneficia tanto o produtor como o consumidor. “É muito bom poder trabalhar com uma cultura em que você beneficia o produtor, principalmente o pequeno, trazendo uma tecnologia que gera renda para ele, e contribuir também com a sociedade, gerando um alimento de excelente qualidade nutricional. Estamos sempre em busca de boas características agrícolas, culinárias e nutricionais. Queremos um feijão com mais proteína, mais ferro, mais zinco, um alimento que possa realmente nutrir a população”, projetou a diretora de pesquisa.

Fonte: AEN Foto: Laércio/Acervo pessoal

set200178

Em ano de menor custo de produção, safra de trigo no Paraná deve contar com aumento de área

Mesmo com os desafios climáticos da última safra de trigo no Paraná, já era previsto um aumento de área do cereal para a safra de 2023. E com o atraso na colheita da soja no estado, sobretudo nas regiões norte, oeste e central, a janela de semeadura do milho segunda safra foi empurrada, o que alterou o planejamento dos produtores e deve resultar em uma área ainda maior para a cultura do trigo neste próximo ciclo. Dados do Departamento de Economia Rural do Paraná (Deral/PR) apontam para um crescimento de área em torno de 13%. E atentos a como melhor rentabilizar a propriedade rural, 300 pessoas, entre técnicos, cooperativas, cerealistas, produtores de sementes, multiplicadores e triticultores do Paraná, São Paulo, Cerrado e Paraguai participaram do Seminário Técnico do Trigo 2023. O evento foi promovido pela Biotrigo, em Campo Mourão (PR), nesta quarta-feira (12), e foi realizado durante o mês que marca o aniversário de 15 anos da empresa e de 10 anos da criação da filial da Biotrigo no Paraná.

Em 2023, há a perspectiva de redução no custo de produção da cultura, especialmente com relação aos fertilizantes. Ainda assim, o manejo racional de fertilidade segue sendo uma medida importante a ser adotada, visando maximizar a lucratividade da atividade agrícola. Esse foi um dos temas abordados no seminário. De acordo com um dos palestrantes do evento, o doutor em ciência do solo, Telmo Amado, além de ser uma fonte de renda e uma oportunidade de amortizar os custos fixos da propriedade, a cultura do trigo também traz diversos benefícios nutricionais ao solo e ao cultivo subsequente, como a soja. “O trigo possibilita alcançar de 40 a 50% da necessidade de aporte anual de carbono para manutenção do estoque desse elemento no solo”, destaca. Telmo cita que o cereal também é importante fonte de magnésio, enxofre e, em menor proporção, nitrogênio. Inclusive, se rotacionado com a soja, o trigo otimiza a nutrição de potássio.

“Além disso, é uma cultura que possibilita a adubação de sistema, pois apresenta elevada densidade de plantas, espaçamento reduzido e ainda possui perfilhamento, o que favorece a absorção de nutrientes verticalmente móveis, como o nitrogênio, enxofre e boro”, completa.

Os benefícios do trigo no sistema de produção, porém, não se relacionam apenas com a fertilidade. Outro fator a ser considerado é o papel da cultura no manejo integrado de plantas daninhas. Se olharmos para a soja, uma das invasoras que mais gera prejuízos em nível nacional, em especial ao Sul do país, é a buva. Segundo o especialista em herbologia e gerente técnico de pesquisa da Fundação ABC, Luis Henrique Penckowski, o manejo dessa daninha começa no outono e inverno e passa por uma boa cobertura de solo no período.

“Cereais de inverno, em especial o trigo, têm um papel fundamental para diminuir essa pressão de infestação e tornar o manejo de plantas daninhas na soja mais fácil e barato”, cita. Já no trigo, o azevém ganha o destaque de Penckowski como a mais importante invasora da cultura. Porém, ele ainda destaca as plantas voluntárias de soja como um ponto de atenção. “Atualmente, as novas tecnologias de transgênicos de soja resistentes a alguns herbicidas estão começando a ser semeadas no Brasil e as plantas voluntárias dessa soja vão gerar desafios, pois serão tolerantes aos herbicidas que utilizamos no trigo. Assim, teremos que introduzir novas ferramentas na cultura do trigo para manejar essas plantas daninhas”, assinala.

Mais benefícios ao sistema de produção

Com um olhar especial ao sistema produtivo, o seminário apresentou Biotrigo Sentinela, um dos três lançamentos da empresa em 2023. A cultivar representa a introdução dos ciclos largos no Brasil, que contam com um período ainda mais longo no campo em comparação a ciclos médio/tardios. Conforme o diretor e melhorista da Biotrigo, André Cunha Rosa, em todas as regiões tritícolas no Brasil, há um intervalo entre a soja e o trigo, em que normalmente ocorrem chuvas. “O solo descoberto nesse período gera uma perda de nutrientes e carbono no solo, assim como a maior ocorrência de invasoras, erosão, dentre outros fatores”, comenta. E com a premissa de cobrir o solo em uma parte desse período, surge Sentinela, variedade que conta com 10 a 15 dias a mais de ciclo que TBIO Ponteiro, outro material da Biotrigo já presente no mercado. Além desses benefícios, Sentinela apresenta elevado potencial produtivo, similar ao próprio Ponteiro. “A cultivar também oferece um bom pacote fitossanitário, tanto para folha, como para espiga, seguindo o padrão visto no portfólio da Biotrigo”, aponta André. Assim, Sentinela une diversos benefícios agronômicos e de sistema, proporcionando mais estabilidade produtiva e segurança na propriedade do agricultor.

Alto desempenho no campo

Outro lançamento apresentado no evento foi Biotrigo Talismã, cultivar que representa uma evolução de TBIO Audaz, um dos trigos mais semeados do país atualmente. “Talismã é um refinamento de um trigo que já entrega alta qualidade. Assim, essa evolução traz uma maior robustez no campo, mantendo ou melhorando praticamente todos os aspectos agronômicos de Audaz”, afirma o melhorista da Biotrigo, Francisco Gnocato. Um dos destaques de Talismã é o seu elevado padrão de qualidade na indústria. Mas uma relevante evolução que o material traz em comparação a Audaz é a melhoria no nível de resistência à giberela, que atinge patamares ainda mais altos. “Assim, a tendência de Talismã é entregar níveis menores da micotoxina deoxinivalenol (DON), o que traz maior segurança ao produtor na comercialização e à indústria na recepção do produto”, acrescenta Francisco.

Se juntando à Sentinela e Talismã como os lançamentos de 2023, foi apresentado Biotrigo Titan. A cultivar, de ciclo médio, se diferencia no portfólio da empresa por seu altíssimo potencial produtivo e versatilidade no campo, entregando excelente performance tanto em ambientes de alta tecnologia, quanto em ambientes de menores investimentos. “Em termos de sanidade, Titan se mostra muito equilibrado e robusto na lavoura. Em relação a rendimento, Titan se apresenta consistentemente superior a cultivares referência no mercado, como TBIO Ponteiro e Toruk, por exemplo”, indica o gerente de melhoramento da Biotrigo, Ernandes Manfroi. Esses fatores, aliados com uma ampla adaptação, tornam Titan um material único no portfólio da Biotrigo. “Por suas entregas no campo, nós acreditamos que, dentro de alguns anos, ele será a cultivar de trigo mais semeada do Brasil”, atesta.

O Seminário Técnico do Trigo 2023 contou com o apoio de Sementes Butiá e o patrocínio de Syngenta, Basf, Enlist, Yara, Bayer, Ihara, Laborsan, FMC e Sumitomo.

Fonte: Biotrigo Foto: Divulgação Biotrigo/Ricardo Maia

set200259

Técnicos da Conab apuram dados para 2° Levantamento da Safra de Café 2023

Até o próximo dia 22, técnicos da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) realizam as pesquisas para o 2° Levantamento da Safra de Café 2023. Os trabalhos tiveram início nesta semana com visitas presenciais em lavouras da Bahia, Espírito Santo, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo. Nos demais estados, a apuração ocorre de forma remota, a partir da coleta de informações com produtores, cooperativas, escritórios que prestam serviços de assessoria técnica, revendas de insumos, entre outros.

Durante o trabalho de campo, os técnicos da estatal poderão acompanhar o início da colheita da atual safra do grão. A expectativa, apontada no primeiro levantamento do produto realizado pela Conab ainda em janeiro, é que pouco mais de 4% do café nacional deve ser colhido até o final de abril.

As visitas incluem as propriedades rurais, cooperativas e outras entidades parceiras. Serão levantadas informações a respeito da produção total de café, bem como os seus reflexos para o mercado, considerando as variáveis climáticas, do manejo, da bienalidade da cultura, das condições de crédito rural e das perspectivas de mercado.

Os dados consolidados constarão no boletim do 2º Levantamento da Safra de Café 2023, que será divulgado e publicado no dia 18 de maio no site da Companhia.

Fonte: Conab Foto: Divulgação

set200319

Após avaliação, PRF suspende restrição de caminhões nas BRs 277 e 376

Após uma série de discussões com áreas técnicas internas e com outros órgãos envolvidos, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) tomou a decisão de suspender as portarias de restrições a veículos de carga articulados nos trechos da Serra do Mar das BRs 277 e 376, no Paraná.
A suspensão das restrições vale para os três próximos feriados prolongados, que estavam incluídos nas portarias suspensas: Tiradentes (21 de abril), Dia do Trabalhador (1º de maio) e Corpus Christi (8 de junho).

Conforme avaliação da PRF, a restrição aos caminhões mais pesados teve sua eficácia comprovada durante a temporada de férias, em que o fluxo de veranistas em direção às praias do Paraná e de Santa Catarina tradicionalmente é maior. Com a chegada do Outono, esse tipo de deslocamento tende a se reduzir, fato que inclusive já foi observado durante o último feriado da Semana Santa.

A decisão de suspender a restrição para caminhões em feriados foi tomada em conjunto com o DNIT e a concessionária Arteris Litoral Sul.

Alerta

A PRF alerta aos motoristas que filas quilométricas seguirão existindo, enquanto houver desvios e interdições parciais, especialmente na BR-277, onde uma das pistas está fechada. Os usuários da rodovia precisam estar atentos às placas de sinalização, e reduzir a velocidade nos trechos em obras.

Com a livre distribuição dos veículos pesados ao longo dos dias de maior movimento, a PRF espera evitar a formação de extensos comboios após o término dos horários de restrição e a superlotação de caminhões em pátios postos de combustíveis e áreas de acostamento.
Ao longo dos próximos feriados, o trânsito seguirá sendo monitorado pela PRF. Ao menos a princípio, novas restrições a veículos de carga estão descartadas.

Fonte: Bem Paraná Foto: PRF

set200439

Movimentação de carga nos portos do Paraná cresce 17,2% em março

A movimentação mensal de mercadorias nos portos do Paraná aumentou 17,2% em março em relação a fevereiro, passando de 4.571.512 toneladas para 5.357.799 toneladas. O crescimento se deu, principalmente, pela chegada da nova safra de soja ao porto e embarque nos navios, num fluxo mais intenso.

O aumento tem sido gradativo a cada mês. O volume movimentado em fevereiro foi 8,6% maior que o registrado em janeiro (4.207.256 toneladas). No acumulado deste ano, foram movimentadas 14.109.999 toneladas nos dois sentidos: de exportação, foram 8.778.706 toneladas (62,2% do total) e de importação, 5.331.293 toneladas (37,8% do total). O volume total é 0,2% superior em relação ao primeiro trimestre de 2022, que registrou 14.079.296 toneladas.

Os granéis sólidos representam quase 62,4% de toda a movimentação mensal dos portos de Paranaguá e Antonina. Neste ano, em março, foram 3.341.475 toneladas de cargas importadas e exportadas no segmento. O volume é cerca de 22,8% maior que as 2.722.016 de toneladas movimentadas no último mês de fevereiro.

Só de soja, foram carregadas 1.204.720 toneladas, muito mais que o dobro das 453.595 toneladas embarcadas da oleaginosa no último mês de fevereiro. De carga geral, em março foram 1.114.103 toneladas movimentadas nos dois sentidos (importação e exportação), volume 4,7% maior que o registrado em fevereiro – com 1.063.852 toneladas. De líquidos, no mês de março foram 902.221 toneladas, cerca de 14,8% a mais que as 785.644 toneladas registradas em fevereiro.

Fonte: Gazeta do Povo Foto: Claudio Neves

set199852

Embrapa apresenta tecnologias inovadoras para cultura da soja durante a ExpoLondrina

A Embrapa Soja participa da ExpoLondrina 2023, promovida pela Sociedade Rural do Paraná, de 06 a 16 de abril, em Londrina (PR), apresentando os pilares que compõem a sustentabilidade da soja brasileira, com destaque para temáticas como bioinsumos, soja baixo carbono, agricultura digital e genética avançada. De acordo com o chefe-geral da Embrapa Soja, Alexandre Nepomuceno, as ações de pesquisa atuais estão voltadas para o aumento da produtividade com racionalização de custos, permitindo a obtenção de renda adequada ao produtor, segurança alimentar e benefícios sociais. “Aliado a isso, as novas tecnologias vem contribuindo com a conservação dos recursos ambientais e a mitigação da emissão de gases causadores do efeito estufa”, defende Nepomuceno. “Por isso, estamos centrando esforços das nossas equipes numa atuação estratégica em quatro grandes eixos temáticos focados em sustentabilidade dos sistemas produtivos”, comenta.

Ainda no estande institucional da Embrapa Soja, serão apresentados os impactos da seca na cultura da soja e as ações para enfretamento deste grande desafio. Entre as ações de mitigação no processo de produção agrícola, estão as reconhecidas práticas de manejo e de conservação do solo e da água, a diversificação de culturas, a utilização do plantio direto na palha, a preservação de nascentes, rios e margens de rios (para aumentar a captação e recarga do perfil do solo e para evitar assoreamento), o respeito ao Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc), as estratégias biotecnológicas, entre outras. “As plantas que sofrem com a seca têm diminuição de tamanho e peso de vagens e grãos, redução de produtividade e possibilidade de morte da planta”, destaca Nepomuceno.

Via Rural (Fazendinha) – Além disso, a Embrapa Soja estará na unidade de grãos da Via Rural, em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR). As tecnologias da inoculação e da coinoculação, Manejo Integrado de Pragas, Manejo de Doenças têm sido objeto de intensas atividades de transferência com os agricultores do Paraná. O projeto conduzido pelo Instituto IDR e a Embrapa em Unidades de Referência (URs) instaladas em áreas de produtores de soja no Paraná mostrou que, nas áreas assistidas conseguem reduzir a aplicação de químicos e aumentar a renda. De acordo com a Embrapa, o número médio de aplicações de inseticidas nas lavouras de soja que utilizam o MIP é 50% menor, quando comparado com as áreas que não adotam o MIP.

A Embrapa também demonstrará na ExpoLondrina os benefícios da utilização da coinoculação na soja (associação das bactérias Bradyrhizobium+Azospirillum). Ensaios de campo mostram que, a coinoculação promove um incremento médio de 16% no rendimento da soja, em relação às áreas inoculadas somente com Bradyrhizobium. O bioinsumo que mais impacta positivamente a sojicultura brasileira é o inoculante à base de bactérias fixadoras de nitrogênio. A Fixação Biológica do Nitrogênio (FBN) promove uma economia de aproximadamente R$ 38 bilhões, ao dispensar os adubos químicos nitrogenados no Brasil.

Fórum Soja Baixo Carbono – No dia 11 de abril, das 8h15 às 12h30, no Pavilhão Smart Agro, a Embrapa Soja irá promover o 1° Fórum Soja Baixo Carbono, com o apoio das empresas Bayer, Bunge, Cargill, Coamo, Cocamar, GDM e UPL. Na ocasião, as empresas apoiadoras do Programa Soja Baixo Carbono irão assinar um Termo de Adesão, que marcar o início da parceria. Confira a programação: www.embrapa.br/forum-sbc.

O evento irá reunir aproximadamente 150 lideranças do agronegócio para promover intercâmbio de informações e discussões que colaborem com a sustentabilidade nos processos produtivos. Para abordar as oportunidades, as perspectivas e as tendências de produção no âmbito da agricultura de baixo carbono, o Fórum contará com a palestra da representante do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), Fabiana Villa. A programação técnica estará composta também da palestra sobre o Programa Soja Baixo Carbono, tema a ser abordado pelo pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi. O pesquisador irá descrever os principais desafios técnicos encontrados no processo de inovação que engloba a construção da certificação da soja produzida em sistemas sustentáveis no Brasil. Outro destaque da programação do Fórum Soja Baixo Carbono será o Talk show com a participação de sete representantes da cadeia produtiva da soja: Bayer, Bunge, Cargill, Coamo, Cocamar, GDM, UPL.

Embrapa na ExpoLondrina

– Estande institucional, próximo da pista principal

– Participação na Via Rural

– 1° FÓRUM Soja Baixo Carbono: 11 de abril, das 8h15 às 12h30, no Pavilhão Smart Agro.

Fonte: Embrapa Foto: Divulgação

set199968

Plantio de trigo começa pela região Norte do Estado

O plantio de trigo começou no Paraná abrindo a safra de inverno para o principal produto desse período, enquanto a de verão caminha para o término da colheita. Os trabalhos envolvem municípios mais ao Norte do Estado. As informações estão no Boletim de Conjuntura Agropecuária, do Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento (Seab), referente à semana de 31 de março a 6 de abril.

Respeitando o Zoneamento Agrícola de Risco Climático divulgado pelo Ministério da Agricultura e Pecuária, o plantio do trigo iniciado no Norte do Paraná deve se estender até pelo menos o final de maio. Mas os trabalhos ainda não ganharam intensidade, em razão da prioridade dada à colheita da soja e plantio de milho segunda safra, que estavam atrasados.

Esse atraso é um dos fatores que levaram ao incremento de 13% na área de trigo neste ano, comparativamente a 2002, devendo chegar a 1,36 milhão de hectares. A parte financeira também contribui nessa motivação do triticultor. No ano passado, grande parte dos produtores teve margens positivas e agora aposta que se repita, ainda que os preços tenham recuado.

Como consequência da expectativa de rentabilidade, alguns produtores testaram plantios mais precoces (março), com vistas a conseguir semear uma segunda safra no outono/inverno. No entanto, devido ao alto risco agronômico e financeiro, o volume de área não alcança 1%.

Milho e Soja

A colheita da primeira safra de milho chegou a 70% da área total estimada em 387 mil hectares. Os trabalhos estão atrasados em relação à média histórica para o período. Já a segunda safra teve o plantio praticamente encerrado, com 99% dos 2,5 milhões de hectares semeados.

O clima favorável dos últimos dias propiciou avanço de 12 pontos porcentuais na área colhida de soja na última semana. Foram colhidos aproximadamente 700 mil hectares. Esses números estão próximos da média histórica para o período, trazendo normalização para a cultura.

Feijão

Em relação ao feijão, o boletim aponta que na última semana os preços se mantiveram estáveis comparativamente à semana anterior. O feijão de cores foi comercializado em média a R$ 408,00 a saca, enquanto o tipo preto ficou em R$ 267,00.

A primeira safra teve a colheita encerrada no início de março. A segunda está a campo em área de 296 mil hectares, com produção estimada em 589 toneladas. O desenvolvimento é considerado satisfatório, com 93% da área em boas condições e o restante, medianas.

Aves e bovinos

A Embrapa Suínos e Aves apontou que o custo de produção do frango no Paraná teve aumento de 2,43% em fevereiro, o que representou R$ 0,13 por quilo em relação ao mês anterior. O valor médio ficou em R$ 5,47 o quilo.

O documento registra ainda que o anúncio da retomada das importações chinesas de carne bovina, em 23 de março, fez a arroba saltar de R$ 276,25 para R$ 292,90. Com o clima favorável e escalas de abate confortáveis em muitas regiões, o preço não deve sofrer grandes variações no curto prazo.

Agrotóxicos

O boletim também trata do Programa Estadual de Análises de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos, instituído em 2011 pela Secretaria de Estado da Saúde, que tem objetivo de avaliar os níveis de resíduos desses biocidas nos alimentos.

O Boletim n.º 01/2023 de Vigilância e Atenção à Saúde das Populações Expostas aos Agrotóxicos 2020-2023 apontou a coleta das 800 amostras de alimentos mais consumidos nas Ceasas do Paraná, em supermercados e alimentação escolar. Observou-se que, dos 25 produtos da horticultura, sete apresentaram níveis críticos e altos riscos de exposição aos venenos agrícolas.

Fonte: AEN Foto: Gilson Abreu/AEN

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Inventado na crise por argentinos, token paga até cafezinho no Brasil com grãos de soja

Alguns produtores da Argentina e do Brasil estão pagando suas contas com grãos de soja. Não se trata do tradicional escambo, ou barter, em que as sacas da leguminosa são trocadas por insumos, fertilizantes e combustível na revenda agropecuária mais próxima. Os grãos, dessa vez, viraram moeda para pagar qualquer conta na maquininha do cartão de crédito: pode ser o cafezinho da esquina, o corte do cabelo ou abastecimento do carro, até a troca da mobília da casa ou a aquisição de um novo maquinário.

“A necessidade é a mãe de todas as invenções”. É recorrendo ao provérbio popular que o diretor da Agrotoken no Brasil, Anderson Nacaxe, explica por que foi na Argentina, e não em outro país, que surgiu o conceito de transformar a soja em indexador do dinheiro dos agricultores, fugindo às variações do dólar, peso ou real. Os tokens, na prática, são garantidos pelas grandes tradings de grãos, como Cargill, Bunge, ADM, Louis Dreyfus, que, autorizadas pelos produtores, fazem cessão de crédito para a Agrotoken – plataforma que funciona como uma câmara de compensação das transações.

Gazeta do Povo: Para entender o agrotoken, vamos pegar uma safra que ainda será colhida. Supondo que o produtor vai colher 100 toneladas de soja. Quando ele tokeniza isso? Como é o processo?

Anderson Nacaxe: A gente tem a tokenização tanto desde o pós-colheita quanto também do pós-plantio. Eu posso considerar um grão entregue como lastro do token, ou seja, um grão colhido e já entregue numa cooperativa, num armazém, e posso considerar também o grão que está em produção na lavoura, que já tenha sido plantado.

A gente usa métodos para chamar de prova de existência. Ou seja, uma vez que eu comprove que esse grão exista, eu permito a geração de um token em cima dele.

Mas e se a soja que foi plantada sofrer uma frustração de safra. Como isso é amarrado?

O que a gente garante é que o token é sempre líquido. No caso de grãos que estão em produção, qualquer risco associado ao plantio ou climático, ou até mesmo a performance, que é a parte dele entregar ou não, a gente tem coberto por outros agentes da cadeia.

A Agrotoken junta vários agentes diferentes. Por exemplo, se um banco quer dar crédito para um produtor com um grão que está em produção, eu exijo que alguém tome o risco-colheita desse produtor. Se o próprio banco aceita esse risco, ele é quem está tomando o risco. Se existe uma seguradora, é a seguradora que assumiu esse risco. É importante ressaltar que quem vê um token pronto, já assume que não existe risco de colheita ali.

Que outras operações já foram feitas com token, além da compra de um trator da CNH no Show Rural, em Cascavel, no início do ano?

A gente já conseguiu fazer 240 mil toneladas entre soja, milho e trigo, no Brasil e na Argentina. Aqui no Brasil a gente está começando um pouco mais forte agora, deve estar chegando aí a 38 mil toneladas. Estamos começando, é embrionário ainda. Foi oficialmente lançada a solução na feira. O volume anterior tinha sido volumes de operações pontuais, para testar o modelo, para provar o conceito. Essa operação do trator foi a primeira operação de fato, estruturada, feita com 100% de produção, no Brasil.

Em relação à forma tradicional de o produtor fazer compras, o que a moeda-soja aposenta?

A gente faz um modelo que é como se eu desse uma moeda para uma economia que já existisse, mas nunca teve moeda. Eu gosto de ver os tokens como uma forma de a economia agrícola criar sua própria moeda, não depender de moedas de governo. Quando um produtor produz soja e precisa converter para reais, ele assume o risco associado ao governo brasileiro. Então ele passa a estar sujeito a variação cambial e qualquer efeito de juros sobre essa moeda, real. Quando tem que converter para dólar, ele toma risco do governo americano e todas as macro variáveis que influenciam essa moeda.

Se eu te falar uma moeda-soja, estou deixando o produtor protegido. Hoje ele não tem ferramenta para trabalhar somente na economia soja. É obrigado o tempo todo a ficar convertendo para as economias tradicionais e moedas de governo. Uma grande vantagem que a gente trouxe foi criar essa moeda em que ele possa transitar sem tomar risco de preço, sem tomar risco de juros diferentes.

Token funciona como um cofre digital em soja

O produtor que faz arrendamento em sacos de soja, ele vai conseguir pagar alguém de fato com soja, sem ter que transportar o caminhão.

Se quiser pagar os funcionários das fazendas ou a viagem da família dele para Disney em soja, também vai conseguir. Porque eu não só permito a transação do valor da soja dele por meio de um ativo digital, como também materializo essa transação por meio de pagamentos tradicionais, como um cartão de crédito. A partir do momento em que ele tokeniza a fazenda dele, é como se ele tivesse criado um cofre na fazenda, que passa a ser a conta corrente dele. E pode fazer todas as transações nessa moeda, que é a economia dele, e se conectar com as outras economias globais, usando esses outros instrumentos financeiros, como um cartão de crédito, uma transferência direta bancária.

É como se agora a conta corrente fosse a fazenda, e o banco que está gerindo isso aí para ele fosse o comprador de grão. E isso tudo acontece fora do sistema financeiro tradicional. E aí ele não é mais refém do sistema financeiro tradicional.

Se ele quiser vender parte dessa produção dele para você, por exemplo, que quer investir num produtor e comprar 100 sacas de soja, você vai conseguir. Não depende mais de fazer um CRA, fazer uma operação estruturada na bolsa, ou criar um Fiagro, criar uma letra de crédito agrícola. O fato de ele já ter essa transação tokenizada vai permitir a integração pura da economia com a cidade. E daí pessoas físicas como nós, poderiam comprar soja.

Você deu exemplo da pessoa física que quer investir em sacas de soja. Quem garante que isso tem lastro?

A função da Agrotoken nesse processo é garantir esse lastro. Eu não sou emissor desse ativo. Imagine um produtor lá de Sorriso, no Mato Grosso, que tem uma área de soja e procura a Agrotoken. Ele vai usar nossa infraestrutura para emitir um token da soja. Esse token tem que atender a critérios. Então, primeiro a Agrotoken valida se a área é uma área legal, se tem autorização para explorar a terra, se é um produtor que atende a critérios de governança que a gente busca. Em cima disso, eu permito que ele entre no meu ecossistema.

No que ele gerar os tokens, eu já verifiquei que a soja existe e que foi vendida, por exemplo, para uma grande trading, como a Bunge. E tem uma cessão de crédito em favor da Agrotoken. Ou seja, o produtor tem soja, já vendeu para a Bunge, e quando entregar, o pagamento dessa soja vem para a Agrotoken, que, por meio do token, repassa os direitos creditórios dessa cessão para quem estiver com o token na mão.

Então, no momento zero, quem tem o token na mão é o próprio produtor. Ou seja, ele me dá os direitos creditórios para a soja, e eu devolvo para ele por meio de tokens. E eu garanto e monitoro esse processo o tempo todo. Eu não estou assumindo o risco. Quem garante a parte econômica do processo são os compradores de grãos.

O risco sistêmico do nosso processo mora nos compradores de grãos. Como a gente trabalha com compradores de grãos de primeira linha, o risco desse sistema acaba sendo Cargill, Bunge, ADM, Dreyfuss, que é relativamente muito baixo.

Eu não apresento risco para o processo, porque eu sou a infraestrutura. E como faço tudo em blockchain, é tudo transparente também. Então não há risco de desvio desse valor. Eu atuo como uma câmara de compensação, consigo garantir para quem está recebendo o token que o processo está sólido, e que tem um comprador que atendeu critérios, e que o operador desse token, que foi o produtor rural, também atendeu critérios.

O preço de quem tem o token na mão acompanha a cotação do dia da soja?

Esse é o ponto mais importante, ele tem preço comum. Um token gerado em Sorriso (MT) ou em Passo Fundo (RS) vai ter valor igual contra referência de preço físico de Sorriso. A gente elegeu uma praça que é bem líquida, bem representativa, porque ela sofre um efeito de frete forte, então a gente consegue capturar variações por conta de preços de frete. E ela sofre também efeitos do escoamento pelo Norte e pelo Sul do Brasil, além de abastecer as fábricas internas.

Se houver vários produtores querendo vender tokens para pessoas físicas, no futuro, quando a gente habilitar isso, não influenciará o preço do token, que é sempre o preço da soja física. Por que ele existe para ajudar o ecossistema agrícola, não é para investidor ganhar dinheiro na especulação. Ele pode usar o token para se proteger da inflação, comprar barato para vender num momento mais caro. Mas não vai ser por conta de oferta e demanda do token, mas por oferta e demanda da soja.

O fato de ter surgido na Argentina já explica um tanto de toda essa engenhosidade…

Eu acho que a Argentina foi o turbo do processo. A necessidade é a mãe de todas as invenções. Na primeira vez que tive contato com a ideia do token, eu era diretor de commodities da Corteva, e o pessoal falava em tokenizar uma CPR. Tudo bem, você iria digitalizar uma CPR, mas depois voltaria a ser uma CPR.

Na Argentina, no que chegou essa ideia lá, eles colocaram uma camada a mais. Digitalizar a soja não tem valor, porém, se eu digitalizar a soja e criar um ativo fungível, terá muito valor, porque daí o produtor pode usar como moeda, e uma moeda soja vai ter mais valor que pesos. Essa sacada aconteceu lá.

Aqui no Brasil, como a gente estava muito acostumado com a visão de que a soja já era líquida, não conseguimos ver essa oportunidade do que seria ter uma soja com preço único no Brasil inteiro. Nasceu lá, por conta da necessidade, e trazendo para cá, a gente consegue ver o valor que é isso. Significa que o Magazine Luiza pode anunciar uma TV com preço único em soja para qualquer lugar do Brasil. A Hilux poderá ser vendida com preços em saco de soja, acompanhando esse índice, porque ele é uma moeda dessa economia agrícola. E só é uma moeda porque ela é fungível. Então, a sacada de fungibilidade nasceu na Argentina, por conta da necessidade que eles tinham de ter uma moeda representativa.

A gente tem uma parceria global com a Visa. Inclusive estamos participando de projetos ainda mais estruturados com eles. Já lançamos soluções em cartões internacionais lastreados em ativos de commodity. Ou seja, o produtor que tokeniza trigo, soja ou milho consegue abastecer um cartão Visa com créditos vindos desses tokens para usar em qualquer lugar do mundo.

E isso é imediato, se ele compra um café, um hambúrguer, onde ele for, essa loja recebe dinheiro no momento zero. Por que a Agrotoken criou um ecossistema com meios de liquidez para esse ativo ser transacionado. Se a pessoa está preocupada, ‘se eu comprar, qual é o risco da colheita?’ Se já virou token, esses riscos já foram mitigados. E isso garante que eu tenho uma liquidez plena que possa abastecer inclusive cartões de crédito e modelos de crédito estruturado de uma forma muito mais fácil.

Isso tem alguma ligação com o sistema financeiro, alguma normatização?

A gente é chamado de token utilitário, porque eu represento um ativo físico e o nosso preço não oscila em função da transação do nosso ativo, ele oscila em função de um índice. Diante disso, eu sou utilitário, estou dentro de uma norma da CBM, que permite que ele possa ser usado em transações comerciais, sem taxação de uma criptomoeda, por exemplo. Uma criptomoeda, por ter volatilidade própria, ela acaba tendo uma regulação diferente. No nosso caso, eu sou um token utilitário, sou amparado praticamente pelas mesmas leis da CPR, sou um lastro igual à CPR, eu sou um recebível.

Quais tradings já estão trabalhando com vocês?

A gente já atua com todas as tradings no Brasil, porque aqui no Brasil a gente consegue usar cessão de créditos independente de ter uma parceria formal com a trading. Mas a gente já está para anunciar três parcerias com grandes tradings, formais, em que elas serão impulsionadoras do negócio. Em teoria, eu não precisaria ter uma parceria formal com elas por causa da lei de cessão de crédito do Brasil. A mesma coisa na Argentina, a gente faz essa parceria para ir no mercado junto.

Pessoas da cidade vão poder investir no token de soja

Como está sendo a recepção dos produtores, que calculam a vida deles em torno do preço da soja?

O que faltava para o produtor? A moeda. Ele já tinha todo o modelo econômico e financeiro em cima da soja. Faltava para ele o meio de troca. Eu passei 17 anos fazendo operações de barter, onde a gente tentava fazer as operações de troca, mas no fim do dia a gente só estava usando como lastro. Isso mostrava que o produtor já tinha uma demanda muito grande de pensar em soja e negociar em soja.

Agora, usando a tecnologia das criptomoedas, a gente criou de fato um ativo que ele possa negociar, que possa usar como meio de pagamento, como reserva de valor, para conectá-lo com um sistema de financiamento descentralizado. E que possivelmente se torne uma nova classe de ativos para investidores em potencial.

Eu gosto muito da ideia de que a gente consegue conectar de fato a cidade ao campo, vou permitir que pessoas físicas como nós, em breve, comprem ativos digitais de produtores.

Um exemplo que gosto de usar: a gente está trabalhando em dois projetos de carne e etanol, onde a gente conseguiria permitir que pessoas físicas da cidade comprassem diretamente ou de um pecuarista ou de uma usina, esse token. E como são cadeias mais curtas, significa que, se eu quisesse ir numa churrascaria e pagar com token, eu conseguiria. Porque a churrascaria poderia pagar esse token para o abatedouro, que está com o boi do pecuarista que já recebeu o dinheiro aqui.

Token de etanol pode estar a caminho

Um exemplo muito prático é de quando as pessoas têm a percepção de que vai subir o preço do combustível. Elas fazem fila no posto. E mesmo que você tenha um aumento de 50 centavos na gasolina, quem tem um carro de 50 litros de tanque, vai economizar no máximo 25 reais no abastecimento. Ele não consegue aproveitar esse preço nos próximos abastecimentos, porque ele está limitado a 50 litros.

Agora, se eu tenho um token de etanol emitido por usinas, poderia comprar dois tanques, três tanques, quatro tanques. Para me proteger de uma eventual alta, se vejo um cenário que vai ter um conflito mais sério no mundo, estou com medo do preço da gasolina, eu já poderia estar comprando um token de etanol agora e isso iria me proteger de uma variação de alta do etanol no futuro. E paralelamente, ao fazer isso, estou investindo no setor primário do país, incentivando a produção de etanol. Então, em vez de ser um consumo que vai gerar inflação, é um consumo que influencia produção, eu antecipo a demanda futura e antecipo o dinheiro para o cara que precisa, que é o produtor rural.

Já tem cartões na mão dos produtores?

Hoje a gente tem duas áreas que receberam esses cartões, eles estão em Silvânia (GO) e Rondonópolis (MT), sendo utilizados por produtores rurais. Vamos começar a produção em massa para atender aos produtores que solicitarem.

É um cartão comum ou ele só vai na loja que aceita o token dele?

É um cartão comum, tradicional, igualzinho o outro. A diferença é que nesse cartão nunca chega a fatura, ele é sempre liquidado com soja. Para as transações nas maquininhas, ele é exatamente igual. Desde que aceite a bandeira Visa.

O que muda é o sistema de liquidação dele, que está por trás, em vez de ele liquidar isso contra dinheiro em banco, ele liquida isso contra soja na lavoura.

Fonte: Gazeta do Povo/Marcos Tosi Foto: Michel Willian/Arquivo/Gazeta do Povo