As cooperativas do Paraná alcançaram R$ 202 bilhões em faturamento no último ano, um aumento de 8,5% na comparação com 2022. Nas exportações, o acréscimo ficou na marca de 25%, com um total de US$ 9,4 bilhões. Os dados são da área de monitoramento do Sistema Ocepar.
Apesar de ser menor do que vinha sendo registrado na série histórica, o crescimento de 8,5% é analisado como significativo pelo presidente do Sistema Ocepar, José Roberto Ricken, ao destacar que o faturamento das cooperativas do Paraná responde por um terço do total no país registrado no segmento. Dados da Organização Brasileira das Cooperativas, de 2022, mostram que o total faturado pelas cooperativas brasileiras foi R$ 655,5 bilhões. “Em número, o Paraná não é tão expressivo em nível nacional: temos 4% (um total de 225) das cooperativas registradas. O Brasil tem em torno de 5,6 mil cooperativas”, comenta Ricken. No Paraná são 62 cooperativas agropecuárias, 54 de crédito, 36 de saúde, 32 de transporte, 19 de infraestrutura, 15 de trabalho e 7 de consumo.
Na análise do secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, 2023 foi um ano de recuperação. “A gente veio de um quadro de safra muito ruim em 2022. O maior volume de produção ajudou no processo de ter mais produto para exportar e processar”. Para Ortigara, o fortalecimento verificado na agroindústria – aliado à produção de destaque de frango e suínos – contribuiu para o faturamento de 2023.
No Paraná, 48% da produção recebida pelas cooperativas passa por algum tipo de agroindustrialização. Com variedade de produtos, as cooperativas têm mirado o foco no mercado internacional, que refletiu no próspero resultado do último ano, quando as exportações resultaram em US$ 9,4 bilhões, crescimento de 25% na comparação com 2022 e o melhor volume da série histórica, de acordo com Ricken.
A safra maior foi um fator significativo para o resultado. “Tivemos mais para ofertar e, consequentemente, conseguimos comercializar mais. Também houve uma demanda em nível internacional aquecida, de pós-pandemia. Tem demanda e as cooperativas estão preparadas para atender”, destaca o presidente da Ocepar.
Na estratégia, as cooperativas investiram na modernização e na ampliação das estruturas de produção. Os aportes de recursos somaram em R$ 6,5 bilhões, que engloba investimento das agroindústrias. As empresas também estão focadas na profissionalização dos cooperados. “Para modernizar, precisa profissionalizar. O cooperativismo no Paraná investiu mais de R$ 100 milhões em capacitação para quase 350 mil pessoas. Mais de 180 mil horas, quase 13 mil eventos”, ressalta Ricken.
Entre os grandes investimentos no Paraná, a Ocepar destaca a Maltaria Campos Gerais. Prevista para funcionar na capacidade máxima este ano, o projeto de intercooperativismo promete fomentar a produção da cevada no eixo São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Com inauguração daquela que é considerada a maior esmagadora de soja do Brasil, a C.Vale foi outro destaque entre os investimentos no estado. A unidade foi construída em Palotina, no oeste do Paraná, com capacidade de processamento de 60 mil sacas por dia. O empreendimento recebeu mais de R$ 1 bilhão entre 2021 e 2023.
Em Ponta Grossa, a instalação de uma queijaria tem investimento de R$ 460 milhões, realizado pela Unium, marca institucional das indústrias das cooperativas Frísia, Castrolanda e Capal.
Para o secretário da Agricultura e do Abastecimento, os investimentos refletem o protagonismo das cooperativas paranaenses. “O lugar que o cooperativismo deu certo foi aqui. Quase todas despertaram para uma verticalização dos processos. Ao invés de só produzir grãos, por exemplo, passaram a produzir proteínas animais. É obvio que o estado tem uma política que concede alguns benefícios fiscais e o Paraná vem sendo ágil na aceitação de projetos de expansão”, pondera.
Segundo Ortigara, o estado quer fortalecer essa característica. “Ao invés de mandar montanhas de milho e soja baratos para o mundo, transformar isso em algo de valor agregado. Qualquer projeto novo que descobrimos, vem à mesa e nós discutimos o que pode ser feito. Empresas privadas e cooperativas estão fazendo investimentos, como a Maltaria, a Frísia, a Piracanjuba, a fábrica de rações da Coamo e a esmagadora de soja”, complementa.
Mesmo com o crescimento na exportação e no faturamento, não faltaram desafios para as cooperativas superarem no ano que passou. “Foram muitos e enormes”, evidencia o presidente do Sistema Ocepar. A mudança governamental, com o início do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi um deles. Conflitos no exterior e problemas climáticos são outros pontos evidenciados no período.
“Agora que estamos conseguindo retomar com a privatização das estradas (…) Em função resquícios da pandemia, tivemos elevação de juros, foi um ano desafiador”, resgata Ricken, ao reforçar que os problemas com logística e infraestrutura foram os maiores.
“Estamos colhendo batata, feijão, milho e soja, mas já estamos plantando a segunda safra. Essa dinâmica é um desafio quando se tem problemas com o armazenamento. Tivemos no Paraná aumento de mais de 10 milhões de toneladas, e temos um déficit de armazenamento de 8 milhões de toneladas. Tem armazém inflável para todo lado”, evidencia Ricken.
Melhorar a logística e o armazenamento são itens na pauta das empresas com a administração pública. “Esse é um investimento constante. Essa preocupação estamos até levando para o governo. Se o Brasil quiser crescer, precisa destinar mais recursos para a infraestrutura e para o armazenamento adequado para produção”, cobra ele. No âmbito estadual, o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná afirma que o governo tem buscado auxiliar financeiramente os cooperados para avançar em soluções logísticas.
Impasse recorrente tem sido no preenchimento da mão de obra necessária para os negócios, que reúnem 3,6 milhões de cooperados e abriram 13 mil novos postos de trabalho em 2023. De acordo com Ricken, a falta de trabalhadores tem sido um limitador para algumas cooperativas do estado. “Quando vai se estabelecer uma agroindústria no interior do Paraná, precisa ver as condições físicas do local, a possibilidade de energia elétrica e a mão de obra disponível, que é uma questão estratégia que precisa ser trabalhada. Temos dificuldade de levar o pessoal para o interior. Às vezes, não é que falte gente, mas falta gente para querer trabalhar”, complementa.
Para Ortigara, a mão de obra é um problema de difícil solução. “Essa situação é vivida por diversos países”, diz. Ele ressalta que há um processo para estimular as cooperativas na robotização e na indústria 4.0.
Mesmo com expectativa boa para o próximo período, o secretário da Agricultura e do Abastecimento do Paraná não esconde que será um ano desafiador. “Um ano climaticamente complicado: estamos em processo de perdas agrícolas. Um ano com taxa de juros elevada e não cabe pressão ao Banco Central agora. A inflação caiu. Mas um ano bom de novas plantas, com investimentos acontecendo. São várias as visões estratégicas das cooperativas para sair do papel”, enumera.
Para Ricken, o desafio neste ano é melhorar a vida do cooperado. “A grande missão é organizar economicamente os nossos cooperados para que tenham mais oportunidade e renda, podendo se desenvolver”. Segundo a Ocepar, em mais de 130 municípios do Paraná, as cooperativas são as maiores empresas, que respondem pelo maior número de empregos e impostos recolhidos.
Fonte: Gazeta do Povo/Gabriele Bonat Foto: Gilson Abreu/Agência de Notícias do Paraná