As adversidades climáticas se tornaram desafios em diferentes frentes para a agricultura e isso inclui a produção de sementes. As condições extremas – ou até mesmo o que é considerado um comportamento fora do observado em séries históricas – afetam a qualidade do solo, que já sofre com fenômenos como erosões, compactação, entre outros. Diante disso, as técnicas de manejo e conservação do solo ganham ainda mais relevância. As ferramentas consolidadas já são capazes de evitar a maior parte dos problemas. Entretanto, as suas aplicações podem minimizar os impactos diretos das mudanças climáticas.
Exemplo disso é o regime irregular de chuvas. Além da escassez, verificam-se também recorrentes episódios de precipitações muito intensas – e em um curto período de tempo – e mal distribuídas, que podem “lavar” o solo e gerar erosões. Por isso, manter a área coberta faz uma enorme diferença.
“Essas situações, junto com alguns problemas de manejo que observamos, podem potencializar os processos erosivos. Vemos que a erosão tem se intensificado mesmo em áreas de plantio direto. Tudo isso é bastante grave e traz uma série de problemas. Existem as questões ambientais e de manejo que podem acarretar casos de assoreamento. Mas esse também é um problema econômico para o produtor, que está perdendo seu maior patrimônio, que é o solo. Além disso, parte dos nutrientes, fertilizantes e corretivos vão embora com essa erosão, e isso custa muito caro. A própria perda dessa camada mais superficial do solo por erosão causa perda de produtividade. Na soja, por exemplo, há trabalhos de cerca de 15 anos, mas ainda atuais, mostrando que a cada centímetro de solo perdido são perdidos cerca de 250 quilos por hectare ”, conta o pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja.
De acordo com ele, também há consequências diretas no solo nos períodos de seca como efeito das mudanças climáticas. A combinação da falta de chuvas com temperaturas altas gera importantes impactos. E, mais uma vez, as técnicas de manejo de solo tornam-se essenciais. O solo precisa estar coberto com palha, para que haja aumento da taxa de infiltração da água – esta deve entrar no solo, e não escoar. Além disso, o solo precisa de fertilidade química, física e biológica para fornecer condições para que as raízes das culturas cresçam em profundidade.
“A raiz não vai crescer se não houver essas condições e sem a temperatura adequada. A raiz não vai crescer bem se o solo estiver com uma temperatura acima dos 30 graus. Por isso, também se destaca a importância da cobertura do solo para que a raiz tenha um ambiente com temperatura adequada ao crescimento”, afirma.
As técnicas de manejo de solo são tecnologias estabelecidas no campo e geram bons resultados. Tornaram-se muito difundidas, mas as condições climáticas adversas motivam novos estudos para verificar alternativas diante desse já conhecido desafio. A Embrapa e outras instituições estão atuando em novas frentes de estudos nessa área. “Temos fortemente trabalhado na busca por alternativas. Mas precisamos ressaltar que essas tecnologias no campo já existem há muito tempo. O que falta é ser aplicado conforme as pesquisas indicam, como o uso de plantio direto, principalmente diversificando o sistema de produção. Temos várias opções para isso”, enfatiza.
Capacitação
Nesse contexto, a capacitação se torna fundamental. Conhecendo mais as técnicas de manejo de solo e suas possibilidades, maior a chance da adoção – e da implantação correta dessas técnicas. A Embrapa Soja, por exemplo, ministra um módulo específico sobre manejo do solo dentro do curso de produção de soja.
O coordenador do curso, o pesquisador e chefe adjunto do Setor de Transferência de Tecnologia da Embrapa Soja, Andre Prando, conta que ainda existem lacunas entre o que as pesquisas mostram e o que é aplicado no campo. E isso é perceptível no contato direto com parte dos produtores.
“Ainda existem muitos produtores que não adotam todas as tecnologias disponíveis. Abordamos no curso toda a parte de manejo de solo, incluindo os aspectos físico, químico e biológico. Priorizamos turmas pequenas para favorecer a troca de experiências e de informações entre pessoas de diferentes regiões. São contemplados agricultores, extensionistas, agrônomos de cooperativas… Ali vemos todos os elos dessa cadeia. O nosso objetivo é justamente possibilitar esse contato com as pesquisas, pesquisadores e as informações”, diz.
Ele lembra que essas são práticas que diferenciam a cultura brasileira em relação ao restante do mundo. Adotá-las pode incentivar os bons resultados e a manutenção desse importante patamar que o país ocupa.
Orientações de manejo de solo para produção de sementes
A empresa de Henrique Menarim, da cidade de Ventania, na região dos Campos Gerais, tem como foco a produção de sementes de soja, feijão, trigo, ervilha forrageira e nabo forrageiro. Para obter bons resultados no campo e maior qualidade nas sementes, existe por lá a adoção de boas técnicas de manejo de solo, consideradas fundamentais por ele. Essa organização e suas ações são parte de um planejamento e ações sustentadas.
“Fazemos um trabalho de rotação de culturas bem estruturado e, naqueles períodos em que existe uma janela entre uma cultura e outra, trabalhamos com cobertura. No caso, esse período maior seria aquele pós-colheita verão e pré-colheita e pré-plantio de trigo de inverno. Temos feito essa cobertura, por exemplo, com nabo forrageiro. Se tem um intervalo, uma janela curta, o nabo forrageiro protege o solo. Se houve a colheita da soja, existe pouca palha e ainda tem os períodos de chuvas fortes. Colocando a cobertura, protegemos o solo de possíveis erosões e também há a reciclagem de nutrientes, o que é fundamental para o sistema”, avalia Menarim, ainda destacando que as raízes pivotantes também possuem papel essencial para deixar o solo mais poroso e com mais condições para a infiltração da água.
Ele ainda explica que, em casos de janela maior – de até 90 dias para a plantação de trigo –, o trabalho contempla outros tipos de cobertura, como a ervilha forrageira. Ela ajuda a reciclar o nitrogênio no solo e deixá-lo disponível para o cultivo de trigo. Paralelamente, é aplicado um sistema de rotação com um terço da área para uma cultura e dois terços para uma outra. “Trabalhar com sistema de rotação também propicia à produção uma maior qualidade sanitária. Cultura sobre cultura, por vários anos, pode se tornar um problema. Fazemos, por aqui, dois anos de soja e depois entramos com o milho”, revela.
O pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, reforça que os mesmos princípios amplamente conhecidos de manejo de solo se aplicam também para a produção de sementes, inclusive a melhoria nas partes física, química e biológica. Essas técnicas vão proporcionar uma planta mais saudável, capaz de produzir uma semente de maior qualidade. “O cuidado adicional para a questão de produção de sementes é sempre observar a reação dessas espécies diferentes que são colocadas no sistema a algumas doenças que podem ser transmitidas. Exemplo disso é o nabo forrageiro, que é uma excelente espécie de cobertura. Mas, dependendo da região e da forma como ela é colocada no sistema, pode multiplicar o mofo branco. Para além da produtividade, isso pode condenar um campo de produção de sementes”, comenta.
De acordo com ele, é necessário enfatizar a necessidade de colocar mais palha e raiz no plantio direto, além da colocação de outras culturas, saindo da soja e do milho e da soja e do trigo. Os produtores estão se movimentando nesse sentido, pensando além da produtividade em si e dos preços das commodities, para colocar atenção à melhoria da qualidade do solo e diminuição de problemas como o da erosão.
Outros desafios
O Paraná é um dos Estados que sofrem com erosão e compactação do solo, na avaliação do pesquisador Henrique Debiasi, da Embrapa Soja. As andanças pelos campos de diferentes regiões ajudam nessa percepção. Por isso, ele é categórico ao afirmar que as técnicas já estabelecidas para manejo do solo devem essencialmente ser aplicadas nas áreas de cultivo. Com isso, já seria possível sair dessa realidade, sem ainda levar em consideração os efeitos climáticos, que compreendem períodos de seca e chuvas em excesso.
Uma das grandes necessidades é trabalhar mais com as áreas que utilizam sucessivamente os sistemas soja e milho segunda safra ou soja e trigo. “A grande maioria dessas áreas nessa situação tem uma camada compactada de solo entre 10 e 20 centímetros. Então, a raiz tem dificuldade de passar por essa camada compactada em função da resistência mecânica. A raiz até cumpre esse processo, mas ela sofre e gasta mais energia para isso. Como temos uma série de cultivares de ciclos precoces, o tempo para crescimento de raiz é pequeno, restringindo ou retardando isso. Para a raiz crescer, o solo precisa ter uma estrutura adequada”, indica.
Fonte: Por Joyce Carvalho/Edição 2024 Foto: IDR PR
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