EXPEDIÇÃO SAFRA 2019 - URUGUAI - COLHEITA DE SOJA - FOTO: MICHEL WILLIAN/GAZETA DO POVO - 12.04.2019

Ciclo 2024/25: La Niña deve “combater” queimadas e ajudar a nova safra

O calor extremo, a vegetação seca e a propagação descontrolada de incêndios na região Centro-Oeste, em que não chove há mais de 150 dias, não afastam a perspectiva de uma safra recorde no novo ciclo agrícola que se inicia no Brasil.

Apesar do cenário apocalíptico das queimadas, ficar quatro a cinco meses sem chover não é algo anormal para o Cerrado. O que fugiu do previsto nesse ano foi o excesso de calor, que deixou solo e vegetação secos, propícios ao fogo. Nos dez primeiros dias de setembro, a temperatura média máxima em Mato Grosso chegou a 39,6 ºC, contra uma média máxima histórica de 35,6 ºC, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A chegada do La Niña, contudo, deve mudar o cenário em breve, recuperando a umidade do solo e devolvendo o verde ao cenário do Brasil Central. Em contrapartida, esse mesmo La Niña, provocado pelo resfriamento das águas do Pacífico, costuma ser desfavorável à safra no Sul do país, e preocupa por trazer consigo chuvas erráticas para a região.

Barreira natural contra os incêndios

“O problema do La Niña para o Sul não é que chova abaixo da média, mas é a irregularidade da chuva. Em Mato Grosso do Sul, São Paulo, Paraná e principalmente no Rio Grande do Sul, deve chover bem em outubro, mas as chuvas tendem a diminuir bastante no final de novembro e dezembro. Isso pode atrapalhar a safra. Já em Mato Grosso, Goiás e lá para cima, a hora que começar a chover, a chuva vem sem problema algum”, aponta o meteorologista Luiz Renato Lazinski.

Em relação ao bioma amazônico, igualmente castigado pelo tempo seco e pelas queimadas, as chuvas devem vir acima da média na primavera, a partir da segunda quinzena de outubro. Assim, estaria a caminho uma barreira natural à proliferação dos incêndios.

Ainda não há estimativas oficiais da dimensão dos prejuízos causados pelas queimadas na agropecuária de Mato Grosso, que produz 31% dos grãos no país. Como as safrinhas de algodão e milho já estavam colhidas em agosto, as perdas se concentram na queima das pastagens e destruição da matéria orgânica superficial do solo. “Quem tinha a palhada, a cobertura do solo, ele perdeu para o estabelecimento da próxima safra. Isso impacta na cobertura que as sementes teriam e no desenvolvimento inicial das lavouras”, diz Cleiton Gauer, superintendente do Instituto Mato-Grossense de Economia Agropecuária (Imea).

Paciência para decidir a hora de plantar

Por outro lado, o atraso na largada do plantio de verão, devido à estiagem, ainda não preocupa os mato-grossenses. “O final de outubro e o início de novembro é um ponto de corte-chave para a gente. É no mês de novembro que precisamos ter um grande volume semeado para conseguir dar vazão à safra aqui no estado”, sublinha Gauer.

Esse volume de chuva necessário para recuperar a umidade do solo e criar condições propícias à germinação das sementes deve vir em outubro. Até lá, as primeiras chuvas no Centro-Oeste ainda devem ser irregulares.

“O produtor vai ter que ter paciência porque a regularização das chuvas esse ano deve acontecer um pouquinho mais tarde, a partir da segunda quinzena de outubro. No entanto, pensar em plantar na segunda quinzena de outubro, em termos de Cerrado, é normal”, avalia Ludmila Camparotto, meteorologista da Rural Clima.

Pelo calendário oficial, a largada para o plantio da safra de verão foi dada no dia 1.º de setembro para boa parte do Paraná, e no dia 7 para Mato Grosso – os dois maiores produtores de soja do país. Antes dessas datas, a semeadura da leguminosa é proibida devido ao vazio sanitário, prática de erradicação de restos de plantas do ciclo anterior, para evitar a proliferação da doença conhecida como ferrugem da soja. Até agora, porém, praticamente nenhuma semente foi lançada ao solo.

Fonte: Gazeta do Povo Foto: Michel Willian/Arquivo Gazeta do Povo

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