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A riqueza de um banco de sementes

As palavras “banco”, “riqueza” e “patrimônio” não estão ligadas apenas quando se trata de dinheiro ou de investimentos. As sementes também unem esses três termos. Elas são as peças fundamentais dos bancos de germoplasma, que são tratados como verdadeiros patrimônios de um país comprometido com a agricultura e a segurança alimentar. Essas estruturas mantêm exemplares, chamados de “acessos”, que conservam os materiais genéticos de diferentes espécies.

A partir disso, é possível encontrar genes resistentes a determinadas doenças ou com certas características, que podem contribuir para a proteção e a evolução da agricultura a partir do melhoramento genético. Sem contar o benefício da própria preservação da biodiversidade.

A exemplo de sua importância na agricultura mundial, o Brasil também é destaque quando se fala em bancos de germoplasma. O país possui alguns dos maiores bancos do mundo, tanto em quantidade quanto em diversidade biológica, além de participar da iniciativa do Banco Mundial de Sementes, localizado na Noruega (leia mais na página 14).

A Embrapa mantém bancos de germoplasma com esses objetivos. Somente o Banco Ativo de Germoplasma (BAG) de soja possui uma coleção de cerca de 50 mil acessos (tipos). O acervo possui desde espécies selvagens da China até as comercializadas no Brasil, passando por acessos vindos de todos os continentes. O banco brasileiro contempla toda a soja de clima temperado e a de clima tropical. “Atualmente, somos o segundo ou terceiro maior banco de germoplasma do mundo em termos de número. Mas acreditamos que somos o maior em variabilidade genética”, sinaliza Marcelo Fernandes, pesquisador da Embrapa Soja e curador do BAG.

O banco de germoplasma da Embrapa foi criado em 1976 e passou por uma reformulação a partir de 2007. Há uma unidade na Embrapa Soja, em Londrina (PR), para projetos de curto e médio prazos, e uma cópia de todo esse banco em Brasília, para manutenção em longo prazo. O trabalho de caracterização de todos esses acessos também é feito no Paraná.

Além de contribuições de instituições de pesquisas do mundo todo e da própria Embrapa, o banco recebe as amostras de empresas detentoras de sementes. “Ali está toda a história da soja do Brasil”, afirma Fernandes. Cada empresa envia de 50 a 100 unidades de cada tipo de semente para o banco. “A função de um banco de germoplasma é garantir a máxima variabilidade de indivíduos de uma cultura, armazenados, caracterizados e disponíveis para serem usados em programas de melhoramento. Seu objetivo é garantir variabilidade genética para que a cultura tenha sucesso em um país”, declara o pesquisador.

Os acessos de um banco de germoplasma são caracterizados. Isso significa que é possível localizar genes específicos, como aqueles que podem conferir resistência a determinadas doenças. Se surgir alguma doença no campo, é possível acessar o banco, verificar quais genes possuem as características desejadas e iniciar um pré-melhoramento.

Banco de germoplasma significa olhar para o futuro. Essa é a opinião de Paulo Campante, diretor de Germoplasma da Croplife Brasil, associação que reúne especialistas, instituições e empresas na área de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para a produção agrícola sustentável. “É a partir da diversidade que se consegue alguma solução”, avalia. Campante lembra que o intervalo entre o início de um processo de seleção até o lançamento de um novo cultivar no mercado é de cerca de oito anos. “Esse trabalho de verificar em seu banco e em outros também, juntamente com planejamento, funciona com um olhar no futuro para que sejam encontradas soluções”, salienta.

Ferrugem asiática

Marcelo Fernandes, pesquisador da Embrapa Soja, acredita que a ferrugem asiática seja o exemplo clássico de como um banco de
germoplasma é importante para o desenvolvimento da agricultura. Essa é a principal doença da soja no país.

Ele lembra que, quando surgiram os primeiros relatos da ferrugem asiática fora do Brasil, as equipes começaram a trabalhar e acessar os bancos de germoplasma. “Alguns cruzamentos foram feitos, mas ainda não era possível a seleção. Isso porque ainda não existia o fungo aqui. Quando ele apareceu, os materiais praticamente estavam selecionados. Já sabíamos quais tinham tolerância à ferrugem”, esclarece o pesquisador. De acordo com ele, o processo de introdução do gene de resistência à ferrugem da soja foi relativamente rápido e, com isso, foi possível minimizar os impactos na lavoura brasileira.

Para Campante, a ferrugem é um caso clássico. “Mas temos várias doenças reumatoides, de solo, que são também de soja e fomos buscar em bancos quais eram os materiais mais resistentes. Os bancos de germoplasma estão presentes basicamente em todas as espécies”, conta.

Próximos passos

Marcelo Fernandes, da Embrapa Soja, conta que a ênfase a partir de agora é a caracterização de 100% dos materiais do banco de germoplasma em relação aos principais fatores bióticos e abióticos. Todo o banco está sendo acessado para identificar diferentes fontes de tolerância, seja a doenças ou ao calor. Isso vai permitir um banco mais bem avaliado, facilitando a busca de materiais e a agilidade em processos de melhoramento.

A velocidade também é destacada por Paulo Campante, mas quanto à necessidade de regulamentação sobre o intercâmbio dos materiais genéticos entre os bancos de germoplasma de todo o mundo. Ele conta que ainda há muitas dificuldades nesse sentido. “Os acessos aos bancos, principalmente os públicos, ainda não é trivial. É necessário melhorar bastante a comunicação e o nível de informação para funcionar de forma mais fluida. Isso passa por uma questão de propriedade intelectual e repartição de benefícios, além dos tratados internacionais que definem o que se pode ou não acessar. Ainda há muito a ser discutido nessa regulamentação”, opina.

Conheça os dois tipos de bancos de germoplasma

Banco de base

Este banco de germoplasma dispõe de uma infinidade de espécies com o objetivo de preservação da biodiversidade. Para isso, os acessos são conservados em câmaras frias ou outras tecnologias por longos períodos. Normalmente, são mantidos por governos e entidades públicas. Exemplos disso: Embrapa Cenargen, em Brasília, e o Banco Mundial de Sementes / Svalbard Global Seed Vault, na Noruega.

Banco ativo

Os bancos ativos são mantidos por empresas, institutos de pesquisa e também por órgãos públicos, visando programas de melhoramento genético de curto e médio prazos. Esses bancos dispõem de menos acessos do que os bancos de base, mas ainda mantêm variabilidade. O objetivo é encontrar soluções, por exemplo, para doenças novas no campo, partindo para programas de melhoramento.

Fonte: Revista Apasem/Joyce Carvalho

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