Plantação de milho. espiga. Foto:Jaelson Lucas / AEN

Revista Apasem | O poder da informação: análise de sementes torna-se cada vez mais fundamental

Deter informações sobre determinado processo ou produto pode fazer uma enorme diferença para alcançar o resultado almejado. Os dados podem auxiliar na elaboração de planejamentos, incentivar ações e até mesmo fornecer uma nova visão para corrigir alguma rota. Na produção de sementes não é diferente: conhecer mais sobre o próprio produto pode indicar uma boa tomada de decisão, conferir a boa qualidade do lote e ainda pautar novas rotas visando melhorias para as próximas safras.

Tudo isso é possível a partir de uma boa análise de sementes, que é fundamental para embasar as empresas produtoras e o mercado do agronegócio como um todo. Saber os detalhes do produto adquirido também traz mais segurança no campo. A avaliação é obrigatória para a obtenção de certificados, mas já deixou o patamar de um mero cumprimento de um dever. Possuir esses dados pode se tornar um diferencial.

A supervisora de qualidade da Nuseed, Maracelia Palma, enfatiza como a análise de sementes é fundamental. A empresa de atuação global, com escritório em Curitiba (PR), conta com a parceria de laboratórios certificados pelo Ministério da Agricultura e Abastecimento (MAPA) em diferentes regiões do Brasil para obter informações sobre os lotes de sementes de sorgo (o principal produto da Nuseed), canola, girassol, milheto, azevém e outras forrageiras.

Os testes são aplicados nas sementes logo após a colheita, beneficiamento, no lote já finalizado, armazenagem e depois dos tratamentos. A análise também contempla a fase pré-envio dos produtos aos clientes. O Laboratório de Análise de Sementes (LAS) da Apasem é um dos que fazem parte da rede de serviços acessada pela Nuseed.

“Com as análises, conseguimos obter as informações que vão influenciar no desempenho dessa cultura no campo. Uma informação isolada não é suficiente. Precisamos sempre de um conjunto de informações para conseguir ter uma tomada de decisão. Então, as informações sobre germinação, vigor, tetrazólio, viabilidade, peso e tamanho das sementes, presença de patógenos, impurezas, contaminantes… esse conjunto de dados nos dá a certeza da qualidade das sementes”, conta.

A empresa que possui esse relatório consegue fazer a classificação de lotes a partir da qualidade e decidir se coloca determinado lote no mercado. Com as informações geradas pela análise de sementes, ainda é possível realizar ajustes, recomendações e orientações para a conservação, uso e manejo desses produtos e ainda planejar as próximas safras.

“Se levarmos em consideração o que o Ministério da Agricultura exige para as culturas que a Nuseed trabalha, as análises ficariam focadas em germinação e pureza, mas o nosso cliente exige muito mais do que isso. Ele quer saber mais sobre o vigor, peso – para ajustar o plantio dele”, destaca Maracelia.

Exigência do mercado e mudanças climáticas pautam evolução e acentuam importância dos laboratórios

A secretaria executiva da Associação Nacional de Produtores de Sementes Forrageiras (Anprosem), Sandra Ferreira, reforça que a importância da análise de sementes cresceu a partir do momento em que também aumentou a consciência do consumidor final sobre os produtos que compra, assim como a dos produtores, que querem conhecer mais sobre as sementes que estão sendo colocadas no campo e qual resultado isso pode gerar em um processo tão complexo. Um reflexo disso foi a abertura de laboratórios e um maior número de pedidos de credenciamento perante o MAPA nos últimos anos.

“O setor evoluiu também nos últimos anos em função da demanda para testagem de vigor das sementes. Isso, tempos atrás, era muito falado em soja. Hoje, já se quer saber sobre vigor de tudo que se produz, devido às alterações climáticas e diferentes tipos de solo que existem no Brasil. Então, é importante saber, sim, como está esse vigor, como está essa semente, para verificar se pode ser semeada em áreas que apresentam mais dificuldades em relação às condições climáticas mais interessantes”, esclarece.

Entretanto, o comportamento do mercado vem mudando para o conhecimento e controle de qualidade de todo o processo. “Quem produz semente também vem buscando mais capacitação e treinamento para si e para a sua equipe para fazer os controles de qualidade dentro do seu sistema de produção. E tudo isso passa pelas análises, incluindo as de sementes. É por meio disso que existem as validações. O Laboratório de Análise de Sementes é o coração das empresas”, opina.

A consultora em análise de sementes Maria Fátima Zorato chama a atenção para como os bons laboratórios vêm ganhando cada vez mais importância, ao relembrar o desempenho da safra 2023/2024 e os desafios que chegam junto com as mudanças climáticas. Esse contexto requer ainda mais informações e conhecimento para enfrentar as dificuldades e garantir bons resultados.

“Temos muito trabalho em genética para entregar produtividade. Já temos um novo patamar em relação a isso e ela traz respostas. Considero, hoje, que um dos grandes desafios, para nós, é dominar essa resposta da genética de elevadíssima produtividade e mitigar as inconstâncias das condições climáticas. Isto acontece por meio de boas práticas, tanto em campo quanto em laboratório”, aponta.

Ela recorda que as sementes são os maiores ativos dos produtores, que desejam conhecer cada vez mais sobre o produto e como ele pode reagir a novos parâmetros e diagnósticos, como aconteceu na última safra. Esse é um movimento paralelo à maior adesão de tecnologia no campo e em todo o sistema produtivo, assim como de soluções mais sustentáveis. “Com uma maior exigência, nós, da linha de frente da qualidade, também ficamos com uma responsabilidade gigante quando falamos na qualidade de sementes. Além da questão financeira, está em jogo o nome da empresa. Não tenho dúvidas de que a qualidade da semente está muito envolvida com o laboratório e como ele pode mostrar todo esse contexto”, observa a especialista, destacando a importância de observar as análises de sementes como um todo, e não focando em apenas um tipo de critério.

No entendimento de Zorato, são importantíssimos os quatro pilares de fisiologia, sanidade, genética e físico para efetivamente pensar em qualidade de sementes. De acordo com ela, é preciso escapar da “cilada” de levar em consideração apenas os dados fisiológicos, deixando os outros atributos de lado.

A responsabilidade do laboratório e de seus profissionais também é apontar os indicadores desses critérios, realizando uma prestação de serviços que reforça a importância da informação gerada pela análise de sementes. “Se o laboratório é um verificador de qualidade, é preciso fazer mais do que o usual, pensando mais em valor agregado”, opina a consultora. No final das contas, a qualidade se dá pelo conjunto de indicadores e pela confiança e capacidade de todo o sistema produtivo, incluindo os laboratórios especializados.

Evolução e tecnologia

A adoção da Inteligência Artificial, que impacta tanto o mundo atualmente e promete ser uma revolução comparada ao surgimento da internet, afetaria a análise de sementes de que forma? E como isso ressaltaria a sua importância perante uma agricultura cada vez mais tecnológica?

Sandra Ferreira, da Anprosem, sinaliza que a evolução tecnológica na avaliação de sementes tem como foco a análise por imagens. Ela acredita que, daqui a cinco a seis anos, será possível fazer isso sem a necessidade de destruir a semente. Ao mesmo tempo, os laboratórios que apresentarem mais capacidade técnica, contribuindo para um maior acompanhamento, também ganharão destaque nesse processo.

“A gente ainda busca muita mão de obra e isso é essencial em um laboratório. É primordial investir mais nesses técnicos e compor boas equipes. Mesmo com adoção de novas tecnologias, nada vai substituir o fator humano. Hoje, na análise de sementes, esse já é um indicador importantíssimo nesse processo e isso não será diferente. Até porque é o técnico que vai preparar a semente para colocar dentro de um equipamento, por exemplo. Também será o técnico que poderá fazer uma avaliação se aqueles dados estão corretos ou não. Os profissionais precisarão ser bem mais treinados”, considera.

A consultora Maria de Fátima Zorato também aponta que a Inteligência Artificial e outras ferramentas poderão ser adotadas na análise de sementes, mas o desempenho humano continuará sendo fundamental para os resultados e a aplicação dessas informações em todas as etapas da agricultura.

“Pesquisadores estão apontando, enfaticamente, que ninguém vai deixar de fazer um único teste em laboratório. A Inteligência Artificial será realmente complementar ao que o técnico está fazendo. Representantes de muitos laboratórios que eu conheço não querem nem ouvir falar de Inteligência Artificial, porque acham que isso vai acarretar perda de emprego. Mas isso não é verdade. Será o contrário: as ferramentas vêm para nos validar. Por isso, vejo com bons olhos e espero que traga muitos impactos positivos”, comenta.

As especialistas mostraram a importância da capacitação – e isso não deve ser deixado apenas para quando determinadas tecnologias se tornarem efetivamente realidade. Torna-se essencial olhar cada vez mais para a equipe dos laboratórios de análise de sementes. Eles possuem papel fundamental para garantir o poder da informação e a qualidade do que se semeia no campo.

Quem deseja entrar e atuar nesta área precisa estar alinhado com as capacitações exigidas pela legislação vigente. O responsável técnico de um laboratório de análise de sementes deve ter a formação de engenheiro agrônomo, além de cursos que o Ministério da Agricultura determina, como o ISO 17025 e a própria capacitação em análise de sementes. “A Apasem, inclusive, fornece esses treinamentos”, conta Saionara Maria Tesser, responsável técnica pelo Laboratório de Análise de Sementes da Apasem em Toledo, no oeste paranaense. “É preciso gostar da rotina de laboratório e entender de fisiologia de sementes. Esses são critérios importantes para um responsável técnico”, complementa. Também há treinamentos específicos para analistas, incluindo reciclagens, que devem ser feitas a cada cinco anos. Esses treinamentos também são ofertados pela Apasem. “O analista deve ter, no mínimo, três anos de prática para ter uma boa base para atuação”, sinaliza.

Substrato de areia: técnica que ajuda a identificar qualidade de sementes e sua germinação

Os testes com substrato de areia estão sendo cada vez mais requisitados. Este tipo de análise mostra como determinado lote de semente pode se comportar em uma fase essencial de todo o processo, que é a germinação. A procura reflete o movimento do mercado em aprimorar a informação sobre as amostras de sementes e, consequentemente, sobre os lotes que serão comercializados e como isso vai gerar resultados no campo.

A responsável técnica pelo LAS da Apasem em Ponta Grossa, na região dos Campos Gerais, Juliana Veiga, explica que esse teste apresenta o potencial fisiológico do lote de sementes e qual percentual vai germinar. “Essa análise pode ser feita em substrato papel ou substrato areia, considerado um dos melhores substratos, o que confere vantagem. Em caso de dúvidas, como alguma fitotoxicidade ou um ataque de patógenos, é a areia que vai fornecer o melhor resultado, pois ali simula uma condição mais parecida com a do campo, muito melhor do que o substrato de papel. Entretanto, há desvantagens, como ocupar mais espaço nos laboratórios e também demanda mais tempo”, afirma.

De acordo com ela, esse tipo de análise começou a ser bastante divulgado a partir do ano de 2004, quando apareceram casos de doenças fúngicas na soja e houve uma boa resposta com o teste utilizando o substrato de areia. A técnica pode ser aplicada para qualquer tipo de semente. Atualmente, o substrato de areia é bastante usado em sementes de soja, de milho e de outras grandes culturas, além de sementes tratadas com produtos industriais.

Fonte: Por Joyce Carvalho/Edição 2024 Foto: Jaelson Lucas/AEN

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