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O papel do cooperativismo para o desenvolvimento do setor de sementes

Na agricultura, as cooperativas surgiram, num primeiro momento, para suprir a necessidade dos produtores na área de armazenamento, acesso ao crédito e fornecimento de insumos. Após, vieram outras necessidades, tais como a assistência técnica, o acesso ao mercado e a melhoria dos fatores de produção.

A semente é um insumo vital para a produção agrícola. No Paraná, a visão da importância da semente iniciou-se em 1971, com a constituição da Ocepar. Naquela época, a cultura do trigo era muito importante e o Centro de Pesquisa da Ocepar situava-se em Cascavel, região com a presença de alumínio. Porém, faltava ainda a produção para as regiões sem alumínio, por isso, em 1979, a Coopervale, cooperativa antecessora da C. Vale, doou uma área de 338 hectares para a pesquisa de variedades para suprir essa necessidade. Em 1994, essa área foi destinada ao Centro de Pesquisa da Ocepar, a Coodetec.

A contribuição das cooperativas deu-se também na busca da melhor maneira de produzir e conservar as sementes. No passado, essa busca passou por muitas dificuldades. Num primeiro momento, as sementes eram ensacadas na propriedade e entregues nas cooperativas, portanto, precisavam ser colhidas secas. Perdiam-se muitas sementes, pois nem sempre as condições climáticas ajudavam. Nas cooperativas, essas sementes eram desensacadas, passavam por um processo de limpeza e novo ensacamento. Era um sistema oneroso e lento, que impedia a produção em larga escala. Em 1978, ocorreu a primeira entrega a granel, fato que viabilizou uma série de melhorias para o setor, a começar pela possibilidade de fazer a secagem das sementes nas cooperativas. Outro grande avanço foi a descoberta das consequências do dano mecânico. Isso desencadeou uma série de melhorias nas Unidades de Beneficiamento de Sementes (UBS), como elevadores com baixa rotação, mecanismos de amortecimento das sementes e desenvolvimento de um layout que evitasse a exposição das sementes aos danos mecânicos. Foi um período de muito aprendizado e quebra de paradigmas, com a participação de inúmeras pessoas e entidades nas pesquisas e discussões sobre como produzir sementes de alta qualidade.

Um longo caminho foi percorrido para chegar à excelência na produção de sementes. Quanta ciência, quantos trabalhos efetuados, erros básicos cometidos à luz da ciência atual, mas que nas décadas de 1970 e 1980 eram temas de muita pesquisa, pois tínhamos o comprometimento das lavouras pela má qualidade das sementes. Lavouras mal germinadas e replantios geravam perdas aos produtores, desgaste institucional e um dispêndio financeiro muito grande para as cooperativas que estavam geograficamente em regiões que, hoje, não apresentam as condições edafoclimáticas adequadas para a produção da melhor semente.

Num primeiro momento, concluiu- -se que, por se tratar de uma região com temperaturas elevadas, essa deficiência estava ligada às condições de armazenagem, pois as análises da germinação, no recebimento das sementes, eram boas. Por isso, na época, investiu-se na construção de silos herméticos, com temperatura e umidade controladas. Mesmo com esse alto investimento, o problema persistiu.

Após novas linhas de pesquisa e discussões, chegou-se à conclusão de que as regiões de baixa altitude, na sua maioria, não eram adequadas à produção de sementes de soja. Esse fato foi comprovado ao longo dos anos seguintes, o que resultou na migração da produção de sementes para as regiões de maior altitude.

Hoje temos novos desafios. O primeiro deles é como produzir as sementes para as áreas de baixa altitude em regiões de altitudes mais elevadas. O segundo, qual é o momento ideal para colher as variedades de crescimento indeterminado preservando-se seu máximo vigor e germinação. O terceiro, podemos interferir com ferramentas químicas, fisiológicas ou culturais para uniformizar os talhões sem comprometer a produtividade, a germinação e o vigor? Por fim, como se comportarão os novos eventos da biotecnologia na produção de semente?

Enoir Cristiano Pellizzaro,

Engenheiro agrônomo, mestre em Ciências Agrárias – Supervisor agronômico da Cooperativa Agroindustrial C. Vale

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